Helm Castelo Cinzento - 7


Subterrâneos da Torre da Garra, 21 de Maio de 1380.

Helm e os dois magos desceram uma longa escadaria de pedras assim que uma enorme porta de metal fechou-se atrás deles. Helm sabia. Ele não estava tomando um caminho para longe dos mortos-vivos, mas sim ao encontro da morte.
Ele estava pronto para matar...
Os cristais na ponta do cajado dos dois magos acederam simultaneamente revelando uma luz mágica e sobrenatural a envolvê-los. A escadaria vertical desceu em espiral por centenas de metros até as profundezas de uma masmorra subterrânea.
Seria a primeira vez como um novo membro da ordem...
O ar ficou cada vez mais denso e quente à medida que os três desciam e apesar da idade elevada dos dois magos a frente de Helm eles demonstravam um vigor sobrenatural fazendo com que Helm apertasse o passo no fim da fila.
Seu alvo era único e o mais poderoso de todos...
O chão sobre eles tremia, Helm sabia com certeza que havia gigantes ou coisas piores junto do exército de mortos-vivos, mas havia algo que incomodava Helm mais do que tudo isso. Apesar de sua terrível dor de cabeça por estar tão abaixo da superfície, seus pensamentos pegavam fogo. Os dois magos não estavam sendo tão sinceros com ele.
Sua vítima nem imaginava. Helm estava extasiado e ansioso...
Por toda a caminhada rumo ao abismo como Helm pensou, ele permaneceu em silêncio, mas assim que o eterno lance de escadas chegou ao fim Helm até pensou em falar algo, mas o ar lhe faltou.
A espera pelo tão aguardado momento fazia seu corpo tremer...
Uma porta em forma de arco revelava um gigantesco mundo subterrâneo repleto de torres esculpidas nas paredes do abismo colossal. Era uma cidade como Helm nunca havia visto, mais lembrava um reino de anões, mas ele sabia que anões ali não existiam.
Sem ar. Com a cabeça prestes a explodir, Helm parou.
A vontade de matar era extrema. Em troca receberia seu maior premio...
― O que diabo está acontecendo aqui? Pra onde é que vocês estão me levando? ― disse Helm apoiando-se com as mãos sobre os joelhos tentando respirar.
Os dois magos estacaram surpresos e trocaram olhares preocupados.
O punhal já estava sorrateiramente sob sua mão...
― Temos que ir. Não temos tempo. ― apressou Dourado Implacável puxando Helm pelo braço.
― Relaxa. Não vou a lugar algum até que eu saiba o que é que está acontecendo aqui. Esse exército de mortos-vivos não pode estar atrás de mim. Tomamos cuidado durante toda nossa fuga de Áquila até aqui. Eu não sou idiota, alguma coisa está errada. ― disse Helm libertando-se do aperto de Dourado Implacável.
A espera lhe angustiava e alimentava seus desejos mais hediondos...
O Grão-Mestre fez uma cara irritada e voltando-se para Helm que visivelmente estava prestes a desmaiar repousou suas duas mãos sobre os ombros do meio-elfo e cravou seus olhos nos de Helm. Os mortos-vivos já começavam a sair pelas janelas e pelos túneis da cidade subterrânea como um exército de formigas enraivecidas.
― Você tem duas escolhas Helm Castelo Cinzento. Ou você fica aqui e morre. ― o Grão Mestre olhou na direção de alguns zumbis que escalavam vorazmente os pilares da ponte― Ou você pode terminar sua jornada no fim desta ponte. Lá existe um templo e neste templo um portal. Ele pode levar você a qualquer lugar que você desejar neste mundo. Ele pode te tirar daqui, mas só se você aceitar seu destino. Aceitar sua morte. ― disse o Grão Mestre tirando suas mãos de cima de Helm.
Helm mordeu os lábios. Havia chego o momento, ele não agüentava mais esperar...    
O Grão Mestre sorriu.
― Entendo sua relutância meu jovem. Há alguém não há? Uma elfa. Jovem. Bela e te ama loucamente, mas o amor de vocês é proibido por você ser um mestiço não é? A escolha é sua Helm. Ou você fica neste mundo com sua elfa e seus futuros filhos e morre como um bastardo inglório ou...
Helm segurou o Grão Mestre pelo manto com as duas mãos e um sorriso insano se insinuou em sua face.
― Chega de seus conselhos. Velho miserável! ― gritou Helm cravando o punhal draconiano sob a garganta do Grão-Mestre sentindo o sangue quente esvair sob sua mão.
O Grão Mestre agonizou olhando perplexo para seu velho parceiro ao lado de Helm.
Dourado Implacável sorria satisfeito.
Helm sentiu uma onde de prazer inundar seu corpo e empurrou o Grão Mestre de cima da ponta de pedra sob as garras dos milhares de mortos-vivos que fervilhavam lá em baixo.
Dourado Implacável estava orgulhoso, sabia que havia escolhido bem. Ninguém a não ser Helm poderia matar o Grão Mestre, pois Helm era o único em todo esse mundo a quem ele confiaria à lâmina draconiana. A única arma capaz de matar com um só golpe um draconiano. O que Helm não imaginava era o que realmente havia feito.
Os mortos-vivos já haviam tomado a gigantesca ponte suspensa e o templo ao qual Helm deveria se dirigir estava do outro lado da onda de ossos e armaduras enferrujadas que assomavam a sua frente.
Helm olhou para sua mão manchada com o sangue do Grão Mestre e respirou profundamente, só lhe restavam poucos segundos.
― Diga-me Dourado Implacável. Onde está meu pai? Ele realmente realizou o ritual para deixar este mundo através do suicídio? Ele foi ao encontro da verdade fora da caverna? ― perguntou Helm sabendo que este era sua parte que lhe cabia do acordo.
Dourado Implacável olhou para as profundezas do abismo na direção do corpo do Grão Mestre, o único que confiaria em Helm de olhos fechados. Talvez Helm nunca lhe perdoasse se descobrisse que acabara de matar seu próprio pai, mas Dourado Implacável sabia que fora em benefício de uma grande causa. Para o que Helm deveria fazer futuramente.
Em seguida olhou para Helm.
Sim Helm! ─ suspirou ─ Ele se suicidou.

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