Demolidores Cruzados - 6


Áquila, 4 de Abril de 1380, AM 2h15min

Thord Vallis é um dos poucos Bárbaros Meio-Orc que já viu as torres iluminadas de Áquila, a capital arthaniana, pelo menos uma vez na vida. Não que os outros não tivessem ouvido falar, mas poucos eram loucos o suficiente para arriscar seu pescoço na maior cidade de humanos de toda Arthania.

E hoje não era um dia diferente na vida do aventureiro bárbaro. Ele tinha um encontro. Com velhos amigos. E por nada no mundo ele deixaria que algo o atrapalhasse ou muito menos atrapalhasse os assuntos que ele tinha para tratar dentro das muralhas de gigantesca metrópole.

Thord sempre viu Áquila como um organismo vivo repleto de doenças e tumores que lutavam dia a dia para sobreviverem um sobre o outro numa eterna luta pela vida. O que mais lhe atraia na metrópole imunda e doentia, eram os chefes do crime organizado com seus sacos de ouro sempre a encomendarem uma morte ou desejarem algo valioso e, troca de seus serviços.

Não havia serviço que Thord não fizesse, seus ganhos pessoais estavam acima de seu caráter e sua posição social. Se é que ele possuía alguma posição social nesse mundo. Ouro, mulheres e poder eram tudo que lhe interessava, mas mesmo assim ele tivera tempo em sua vida para fazer amigos e ainda se tornar um dos ex-Demolidores Cruzados.

Depois de anos ao longo da estrada Thord Vallis estava de volta para a alegria das prostituas das tavernas de Áquila e para o desespero dos jogadores compulsivos que apostavam nos subterrâneos das ruas onde a noite de prazeres nunca tinha fim.

Os Bárbaros, Rangers e outros mestres selvagens que ele havia conhecido não amavam as cidades e os grandes centros populacionais como ele. Thord era à exceção da raça e dos seres adeptos da natureza. Ele cultuava o ouro, o jogo e as mesas de taverna repleta de sensualidade e prazer. Era por isso que ele estava em Áquila, ele precisava de um contato do submundo do crime e da ilegalidade para se infiltrar e para isso não havia ninguém melhor do os pequeninos halffits Ladnar e Jerry.

Como de costume, ele estava à espera dos dois no mesmo lugar de sempre, no mesmo lugar que ao longo dos anos eles fizeram enriquecedores negócios para ambas as partes. No dia 4 de todo mês, os dois ás duas horas da tarde iam até a figueira nos arredores do portão norte e se caso o fedorento Meio-Orc estivesse por lá, eles davam um jeito de colocarem-no para dentro dos bem guardados portões de Áquila. Que para os dois pequeninos armados com suas línguas e algibeiras se revelavam não tão bem guardados assim.

Mas alguma coisa errada estava acontecendo e Thord Vallis sabia disso. Os dois halffits não haviam aparecido como de costume no horário marcado e ele sabia que eles não eram bestas de quebrar o protocolo, ganhavam bem para entretê-lo.

*****

AM 2h30min.

Thord Vallis já tragava seu ultimo charuto arthaniano totalmente indignado com os dois halffits quando do alto da figueira ele avistou os dois miseráveis a caminho, mas do outro lado da estrada logo após a curva o que ele avistou fez seu caríssimo ultimo charuto arthaniano cair de sua boca em câmera lenta. Uma nefasta horda de orcs a caminho dos portões da cidade.

Ele calculou, com sua péssima matemática, mas calculou que não ia dar tempo de avisar os dois halffits e muito menos fazer alguma coisa a tempo de impedir a cagada que estava prestes a acontecer. E antes que seu charuto batesse no chão ele ainda avistou uma tropa de soldados arthanianos a reboque dos dois halffits do outro lado da estrada juntamente com Diock Sub’Azzerroze e Zinkt de Howerheck, seus dois velhos amigos.

Então, o charuto bateu no chão e ele decidiu aguardar o desenrolar da batalha sem tomar partido, pois Sub’Azzerroze não poderia saber de sua presença, eles tinham contas para acertar e Thord queria encontrá-lo de surpresa e dentro dos limites da cidade. Mas seus instintos diziam-lhe para sair correndo e voar nas gargantas dos orcs que atacavam os soldados, mas no fundo Thord não sabia quem é que deveria realmente sobreviver.

E então um Troll se juntou à batalha e sua sede de sangue elevou-se a mil, mas mesmo assim ele sabia que deveria permanecer a espreita e esperar pelo desenrolar dos fatos. Minutos depois, pelo meio da mata um soldado apavorado imergiu a sua frente e foi nele mesmo que Thord descontou a raiva e a vontade brigar. O desavisado soldado nem viu de onde veio o soco que o jogou de costa num barranco e a ultima coisa que o pobre coitado sentiu foram cordas apertando seus braços e pescoço e então tudo escureceu.

*****

Assim que Thord Vallis chegou com passos furtivos por trás das árvores até a beira da estrada ele viu seu velho conhecido de longa data Diock Sub’Azzerroze, amarrando os dois pequeninos halffits. Calmamente o capitão arthaniano colocou os dois em suas costas e partiu em direção ao portão norte da cidade de Áquila. Ver os dois pequeninos amigos serem levados como dois frangos pro abate nas costas do capitão fez o sangue do Meio-Orc fervilhar.

Thord olhou maliciosamente para o soldado em suas costas e sorriu...

― Agora que eu perdi meu contato, vou ter que entrar do meu jeito! ― declarou para o soldado desacordado voltando para dentro da mata ― Teu chefinho vai ter uma surpresa quando me vir...

E vislumbrando como seria sua noite voltou para pegar seu caríssimo charuto arthaniano. Ele tinha contas para acertar com Diock Sub’Azzerroze e agora motivos não faltariam. Somente um dos dois sobreviveria a partir de hoje.

Essa noite promete, pensou ele.

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