Carlópolicity - A Cidade Parasita 1


De qual medo somos reféns? De qual segredo subjetivo fugimos quando nos olhamos no espelho? De qual decisão gostaríamos mais de nunca decidir?
Seus problemas, meus problemas, todos nós caminhando rumo a um destino único e sem rumo. Daqui de dentro de meu detonado carrinho popular eu vejo rostos desaparecendo pelas ruas. Corações partidos escondidos atrás de lábios de nicotina, iluminando a noite com olhos etílicos enquanto o mundo parece desabar sobre minhas costas.
Eu subo e desço pelas ruas e aonde quer que eu vá, eu vejo pessoas sinceras, bebendo e fumando, brigando e violentamente aniquilando qualquer senso de amor próprio. Elas assim como eu, estão sozinhas, casais que se amam celebram a vida em família e não a solidão coletiva das noites sobre as coberturas dos bares.
Somos infelizes a nossa própria maneira, mas nos consideramos satisfeitos com nossa incapacidade de nos permitirmos amar. Solitários, parasitas sentimentais circulando pelos corações de aluguel a procura de algum vírus que nos derrube de cama e nos sentencie de amor.
Enquanto cruzo uma das ruas dona de uma grande calçada carioca vejo rostos conhecidos pela multidão. Os mesmo de sempre, mal amados e infelizes, esperando por um grande amor enquanto o álcool não lhes despedaça o controle das palavras e das lágrimas. As mesmas cadeiras, os mesmos bares, as mesmas brigas. E você continua o mesmo desde o começo de tudo isso.
A bandinha contratada se prostitui tocando os mais novos sucessos sertanejos para a moçada proletária. Viva a industrialização e a comercialização da felicidade, nunca antes vimos pessoas tão felizes em nossas cidades. Que porra é essa? Você faz parte disso? Dessa hipocrisia social que lhe obriga a se matar de trabalhar a semana inteira e que te faz acreditar que você precisa tomar uma gelada no calçadão para se alegrar? Você faz parte disso? Viva sua infelicidade e sua revolta por não aparecer ninguém que te faça mais feliz que a presença de seus solitários amigos.
Você foi deixado para trás, todos juntos celebrando a dor da solidão, o coração disparado, uma música ruim, o clima tenso da espera de uma briga, pessoas que se odeiam reunidas num espaço confinado sem fronteiras, viva tudo isso e sua falta de percepção.
Eu continuo sobre a mesa junto ao meu Red Label com Red Bull, minha camiseta do Kurt Cobain e meu All Star preto cheio de terra vermelha. Eu continuo vendo tudo isso, todas as crianças que crescem aprendendo a celebrar a infelicidade das mesas de suas casas para as mesas dos bares desse maravilhoso mar de água doce.
Viva nossa terra e nossa falta de perspectiva, viva nosso cérebro e sua dependência química de pessoas e lipídios de picanha, viva nossa incapacidade de amar o sertanejo, viva o universo particular de cada um...

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