Guerra Psíquica - 6


─ Nada é impossível para a mente de um homem. ─ disse Zink parafraseando Heian em um dos trechos de sua obra que relata exatamente essa conversa dos dois que ainda não acorrera na realidade.
Heian estava tentando destilar todas as informações que invadiam sua mente. Se tudo estava certo, então no dia em que ele se acidentou de moto no caminho de volta para sua casa o Comando Ovolun estava a serviço...
─ Não! É impossível! ─ disse exasperado Heian para si mesmo sentando sobre a maca ─ Eu ainda estou sonhando, não é possível. O Comando Ovolun então sabia da existência da minha obra e eu não duvido nada que eles não a tenham roubado.
Zink sabia que o estado de negação de Heian era uma coisa normal a qualquer um que descubra que há algo de errado com a própria vida.
─ Heian, me responda uma coisa. Será que tudo o que você escreveu você realmente criou? ─ perguntou Zink tentando não ofender o jovem amigo.
Heian virou os olhos visivelmente ofendido e magoado. Quando sua obra fora escrita ele ainda era jovem e estava na casa dos vinte e poucos anos e seria difícil mesmo ser respeitado, mas ele nunca plagiaria nada.
─ Heian, o que quero dizer é que, você nunca pensou na possibilidade de estar escrevendo coisas que ainda estavam para acontecer? ─ explicou Zink revelando um novo ponto de vista ─ Há muitas coisas que você escreveu que somente se você fosse um vidente você saberia que estaria para acontecer ou mesmo ser construído.
Heian calou-se e olhou para a janela do quarto, a noite obscura escondia o brilho de estrelas que cintilavam em outros céus. Áquila possui o mesmo céu, mas essa cidade só existia em suas histórias não poderia existir na realidade. Sua teoria de que as cidades parasitavam os homens através de seus sentimentos era apenas um estudo sociológico para explicar seu ponto de vista, mas ele não tinha dúvidas, só poderia estar em Áquila. Há dez anos ele vivia como operador de produção nas Indústrias Ovolun e sua obra era uma crítica ao sistema capitalista, mas após isso o mundo que ele vivia evaporou e agora sua mente não podia conceber como continuar.
─ Filho, ouça: estudamos muito sua obra, sua filosofia e sua teologia. A questão é uma só, você acredita na existência de um Multiverso? ─ perguntou Zink contra o olhar determinado de Heian, seus olhos castanhos possuíam um brilho que havia se apagado até o momento de seu despertar ─ Ou você é um escritor que escreve sobre coisas nas quais você não acredita?
─ Acredito em tudo aquilo que escrevo. Na viagem da mente para outros corpos que se comportam como avatares em outras dimensões. Na possibilidade de nesse momento eu estar perdido pelo Multiverso, pois tenho certeza absoluta de uma coisa, eu não despertei na mesma cidade em que me acidentei. ─ declarou Heian se levantando de uma vez com seu roupão de paciente.
Zink tentou ajudá-lo a retirar as agulhas e os eletrodos, mas Heian arrancou a todos violentamente, estava nervoso e sua face estava marcada pelas linhas da preocupação.
─ Se não me engano já possuo trinta e três anos então? ─ concluiu passando a mão sobre a face e percebendo que alguém fizera sua barba durante todo esse tempo ─ Só não entendo como é que o que vivi nesses dez anos me pareceu tão real se estive em coma induzido?
─ Entendo filho, realmente estamos em Áquila, mas antes isso aqui tinha outro nome, ela se chamava Curitiba, mas isso fora antes de eles construírem as Super Cidades mundiais ─ Zink fez um silêncio proposital, Heian refletiu e Zink ajudou-o a se levantar e juntos caminharam para fora do quarto através de um longo corredor mal iluminado.
─ Veja bem Heian. Oitenta por cento da população mundial foi exterminada através de alguns vírus criados em laboratórios. Eles fizeram os governos obrigarem seus cidadãos a tomarem vacinas contra epidemias globais que nunca existiram e a mídia maquinou tudo. ─ disse e então depois de muito caminharem entraram em um elevador de grades, utilizado em escavações.
─ As pessoas foram envenenadas e somente os que não aceitaram tomar sobreviveram. Os governos mundiais se unificaram sobre uma única bandeira e nos unimos em super cidades, interligadas por super rodovias altamente protegidas. Assim sobrevivemos até hoje.
─ E quem está no controle desse novo governo? ─ perguntou Heian apoiando-se sobre os ombros de Zink mal conseguindo parar em pé.
─ A Corporação Ovolun. Vivemos num sistema autoritário mega-capitalista voltado totalmente para a produção industrial. ─ explicou Zink já desconfiando da próxima pergunta.
─ Zink, eu confio em você plenamente, mas Áquila não é e nunca foi uma Curitiba modificada e esse mundo também não é o que eu sempre vivi. ─ declarou Heian tentando parar que Zink o tratasse como uma criança.
─ É verdade Heian, naquele acidente você morreu, mas sua consciência despertou aqui em Áquila, em um de seus muitos corpos no Multiverso. ─ confessou Zink.

Comentários

Postagens mais visitadas